segunda-feira, 1 de abril de 2013

O fim do governo de Hugo Chávez


No dia 5 de março de 2013, morreu, vítima de câncer, um dos principais líderes da América Latina, o presidente venezuelano Hugo Chávez. Saiba sobre sua trajetória política e as possíveis implicações e desafios para o governo da Venezuela após a sua morte, bem como os impactos do fim do seu governo para a América Latina.
Antes de se tornar presidente da Venezuela, Hugo Chávez era oficial militar de carreira. Sempre foi entusiasta da doutrina político-ideológica de esquerda do bolivarianismo, que é baseada nas ideias de Simón Bolivar (1783-1830), político militar venezuelano que lutou na guerra de independência de diversos países da América Espanhola, e defendia maior integração entre os países latino-americanos frente à dominação colonial.
Simón Bolívar inspirou o bolivarianismo, que teve como principal ícone contemporâneo o presidente venezuelano Hugo Chávez. Referência: BERNAL, A. Ricardo. Retrato de Símon Bolívar.  1902. 1 óleo sobre tela: color.
Simón Bolívar inspirou o bolivarianismo, que teve como principal ícone contemporâneo o presidente venezuelano Hugo Chávez. Referência: BERNAL, A. Ricardo. Retrato de Símon Bolívar. 1902. 1 óleo sobre tela: color.
Nos dias atuais, essa teoria é retomada para reivindicar uma maior autonomia dos países latino-americanos frente às intervenções políticas e econômicas estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos. A união desses países é vista como central para o desenvolvimento econômico com justiça social da América Latina.
Muitos analistas consideram que a força política de Chávez surgiu no começo da década de 1990. No ano de 1989, o então presidente, Carlos Andrés Perez, instituiu uma série de medidas neoliberais de austeridade fiscal, o que provocou uma grande manifestação popular conhecida como “Carcaraço”. O governo venezuelano, para conter esse levante, convocou uma ação militar que provocou um grande massacre. Evocando principalmente esse episódio, em 1992, Hugo Chávez tentou dar um Golpe de Estado para derrubar Perez, que acabou fracassando, levando-o a cumprir dois anos de prisão. Apesar de não conseguir seu objetivo de destituir Carlos Andrés Perez, a partir desse acontecimento, Chávez  projeta-se no cenário nacional venezuelano.
Após sair da prisão, por meio de uma anistia aprovada pelo presidente Rafael Caldera, Chávez funda, em 1997, o partido político Movimento Quinta República (MVR) que o leva a vencer as eleições para a presidência da Venezuela em 1998.  No ano seguinte, assume o governo, mandato esse que segue até sua morte em 2013,  embora tenha sofrido uma tentativa de golpe  em 2002,  que o afastou do poder por 47 horas. Chávez manteve-se no poder por meio de uma série de medidas de reformas na Constituição, que foram aprovadas em plebiscitos, e instituíram decretos que permitiram a sua reeleição.
O seu governo foi marcado por polêmicas. Por um lado, fez uma política agressiva de combate à miséria no país, o que resultou na melhoria das condições socioeconômicas, principalmente da população mais empobrecida. Por outro, foi acusado de limitar a liberdade de impressa na Venezuela e de aumentar em demasiado o poder da presidência nas decisões políticas, em detrimento dos demais poderes do Legislativo e Judiciário. Além disso, suas políticas externas de confronto, com países como os Estado Unidos, Israel e Colômbia e de aproximação de outros como Cuba e Irã, foram vistas como desvantajosas para muitos governantes ocidentais.

Hugo Chávez governou a Venezuela por aproximadamente 14 anos. Foi um líder bastante polêmico e recebeu duras críticas, sendo seu regime diversas vezes comparado com o de Fidel Castro em Cuba. Crédito: Marcello casal Jr/Arquivo ABr. CC BY 3.0
Hugo Chávez governou a Venezuela por aproximadamente 14 anos. Foi um líder bastante polêmico e recebeu duras críticas, sendo seu regime diversas vezes comparado com o de Fidel Castro em Cuba. Crédito: Marcello casal Jr/Arquivo ABr. CC BY 3.0
Além de Cuba, a Venezuela, durante o mandato de Chávez, tinha uma boa relação com o Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador e demais países que formam uma coalizão de governos de esquerda na América Latina. Um fato importante que ocorreu durante o seu mandato foi a adesão da Venezuela como país-membro do Mercosul no dia 31 de julho de 2012. Tal acontecimento trouxe um aumento das reservas de riquezas para o bloco, principalmente oriundas da exploração de petróleo venezuelano. Representou também um ganho histórico para o seu país, que há tempo pleiteava a adesão a esse bloco econômico.
Hugo Chávez, posando para a foto oficial de adesão da Venezuela ao Mercosul.Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil. CC BY 3.0
Hugo Chávez, posando para a foto oficial de adesão da Venezuela ao Mercosul.Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil. CC BY 3.0
Em suma, polêmicas à parte, a América Latina perde um líder que defendia e lutava para uma maior autonomia dessa região e a Venezuela um presidente que se dedicava a melhorar as condições de vida da sua população. Chávez foi um líder carismático muito aclamado pelos venezuelanos, principalmente das classes econômicas mais pobres que o mantiveram no poder nas suas disputas eleitorais. Ao mesmo tempo também desagradou parte da população venezuelana que clamava principalmente por maior liberdade em seu país e questionava seus longos anos no poder.
Em 2012, Chávez reelege-se para um terceiro mandato. Porém, a fragilidade de sua saúde não permite exercê-lo por completo, ficando a cargo do vice-presidente Nicolás Maduro. Crédito: Imprensa Miraflores / Télam / lz/ABr. CC BY 3.0
Em 2012, Chávez reelege-se para um terceiro mandato. Porém, a fragilidade de sua saúde não permite exercê-lo por completo, ficando a cargo do vice-presidente Nicolás Maduro. Crédito: Imprensa Miraflores / Télam / lz/ABr. CC BY 3.0
Com a sua morte, o vice-presidente Nicolás Maduro assume interinamente até novas eleições que serão marcadas em aproximadamente 30 dias. O futuro da Venezuela é incerto. O que se observa nos dias que sucederam a morte de Chávez é um discurso de união entre seus opositores e aliados. É necessário formar um governo consistente que vise à superação de inúmeros desafios que o país ainda enfrenta. Por exemplo, combater a violência, que aumentou nos últimos anos;  diminuir a inflação, que é uma das maiores da história do país; manter as políticas sociais de combate à pobreza e às desigualdades; melhorar o gerenciamento das riquezas obtidas pela exploração de petróleo, para que essa se converta em políticas de bem-estar social para toda a população venezuelana, entre outros.

Acompanhe também as reportagens:
Entrevista de Hugo Chávez sobre a tentativa de destituição do seu governo em 2002 e as principais características e polêmicas do seu mandato.
Repercussão e os impactos da morte de Hugo Chávez para a América Latina.

Por Helena dos Santos Lisboa




Nenhum comentário:

Postar um comentário